Dia 12 de setembro. Está marcada a data em que minha rota diária vai virar uma bagunça. A prefeitura divulgou esse dia como o primeiro no calendário de construção do viaduto no cruzamento da Marginal Botafogo e a Avenida Jamel Cecílio.
Para uma pessoa que, como eu, tem TOC para mais de metro, a canseira normal que todos sentem é maximizada. Culpa da doideira. A publicidade municipal diz que os transtornos passam, os benefícios ficam. Meu apego ao slogan é o que mantém minha sanidade.
Moro e um dos meus empregos é na Região Norte da cidade. Outro trabalho é na Região Sul. A Marginal Botafogo é por onde corto Goiânia de cabo a rabo para garantir meu sustento. A partir da semana que vem e nos próximos 15 meses (se o calendário original for cumprido, o que a experiência me mostra que dificilmente será), terei que virar escravo do Waze para meu deslocamento diário.
A probabilidade maior é que eu pegue a BR-153 diariamente. Não há via em Goiânia que desperte mais meu ódio que a famigerada rodovia. O povo corre demais, tem batida demais, cheia demais, perigosa demais, congestionamento demais. Mas a vida é dura e às vezes o melhor é aceitar que dói menos.
Nutro algum otimismo em meu coração: pode ser que a BR seja uma alternativa de poucos dias. Como tenho essa Goiânia de meu Deus como casa desde o dia em que o obstetra de minha mãe me deu o primeiro dos incontáveis tapas na bunda que tomei na vida, sei, mais ou menos, de que forma o goianiense lida com intervenções na cidade.
Nas duas primeiras semanas, é melhor passar pelo inferno do que pelo ponto em obra. É mais rápido pegar um caminho que passe pelo Oiapoque do que tentar cruzar pela região afetada. As pessoas estão confusas, a sinalização ainda não está nos pontos certos, tudo vira uma zona.
Passados uns 15 dias, a coisa costuma se assentar. Uma parcela dos que trafegam por ali buscam caminhos alternativos. Quem insiste em transitar por ali, compreende a nova dinâmica. O poder público faz as correções necessárias e o trânsito volta a ter alguma fluidez.
Minha torcida é para que isso aconteça logo e eu volte a seguir meu caminho diário com o máximo de normalidade possível. Até lá, já estou na preparação emocional que preciso para cruzar pela BR-153. Inspira, expira, inspira, expira, inspira, expira…
Imagem: Prefeitura de Goiânia

Pablo Kossa é jornalista, produtor cultural e mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Goiás (UFG).