OpiniãoOQRTendência Pablo Kossa

Você me indica uma série aí?

24 de setembro de 2019 Nenhum Comentário

Volte e meia, a gente topa com um post de rede social pedindo uma indicação qualquer. Acho um recurso interessante para certas ocasiões. Já fiz uso desse instrumento e consegui bons prestadores de serviço. Um eficiente encanador, uma prestativa vendedora de artigos para animais de estimação. Mas, sempre que topo com alguém solicitando indicações de séries, fico meio assustado. Eu nunca confiaria à opinião alheia algo tão perigoso como uma série.

Pedir indicação de discos ainda faz sentido. Se for uma roubada, na pior das hipóteses, você investiu uma hora de sua vida em algo meia boca. Perdemos mais tempo com coisas incrivelmente mais inúteis, como o trânsito ou ficar vendo stories bobos no Instagram dos outros.

Não dá para arriscar entrar em onda errada quando o assunto é série. O investimento pessoal de tempo que o formato exige é grande demais para nos darmos ao luxo de errar. Série ruim significa muito muito muito muito tempo desperdiçado. E, no mundo de hoje, nada tem mais valor que nosso tempo.

Tem gente que eu não confiaria pegar uma informação de trânsito, imagine então abrir espaço para algo muito mais complexo que é uma série. Se você é daqueles que abandona uma série se começou a achar chata sem sofrer, parabéns. Você é sim privilegiado. Você pode arriscar mais. Não é o meu caso. Meu maldito TOC não permite que eu abandone as coisas pela metade. A dor é grande demais. Se começo, vou até o fim. Mesmo que esteja achando a história chata, o argumento forçado e a encheção de linguiça como mote de tudo.

Como gosto de ser zeloso da forma que gasto meu tempo, redobro meu cuidado com séries. Não dá para botar fé que toda série nova é I-M-P-E-R-D-Í-V-E-L. A indústria vende isso, eu sei que as coisas não são assim. Gente que prezo muito cai nesse conto da carochinha. Não dou ouvidos às indicações destes.

Confio na perspectiva estética de poucos amigos. Desses, sei que uma indicação não é roubada. Quando eles falam que determinada série vale assistir, coloco na minha listinha. Por ser de umas gerações anteriores, também confio no papel dos críticos. Se algum jornalista, com o qual meu interesse estético coincide, está elogiando uma produção, essa vai pra lista.

Por ser assim, também não costumo responder pedidos genéricos de indicação de séries. Quem abre de forma tão ampla seu ouvido a recomendações, na verdade, topa qualquer coisa. Se me pedem no privado, em particular, ainda assim hesito. Depois de entender um pouco o que a pessoa gosta, tento indicar algo. Mas realmente não fico confortável nesse papel.

Mudando de assunto, vem cá, você poderia me indicar uma série aí? Só não prometo que vou assistir…

 

Pablo Kossa é jornalista, produtor cultural e mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Goiás (UFG)

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