OpiniãoOQRRevistaTendência Pablo Kossa

É dolorido ver as filhas crescerem

18 de outubro de 2019 Nenhum Comentário

O passar dos dias é inexorável. A cada palavra desse texto que você lê, cada segundo que o ponteiro do relógio anda, cada inspirada e expirada de ar estamos mais perto da morte – e sempre na torcida para que ela demore décadas para bater em nossas portas. Mas tem momentos em que esse incontornável envelhecer lhe esmurra a face com mais força. Nessa semana que se finda, tive duas porradas no queixo que ainda me deixam tonto.

Recebi pelo WhatsApp a notícia que minha primogênita se inscreveu para o processo seletivo universitário. Sim, ela tem 17 anos. Sim, é a idade que normalmente um jovem escolhe o que vai cursar. Sim, eu já sabia que isso aconteceria nesse período. Sim, ela já mora no exterior onde estuda no Ensino Médio.

Tudo isso é claro e cristalino. Mas a gente nunca está realmente pronto para esses momentos. Universidade é diferente. É a entrada de fato na vida adulta. No ano que vem, ela, caso queira, estará bebendo comigo as cervejas artesanais que fabrico. Se bebe escondida de nós, pais, normal. Também não esperei a maioridade para me embriagar. Compreendo tudo isso.

O problema é quando a mensagem falando de inscrição para a faculdade brilha em seus olhos… É, como diz o Nasi, desculpe, meu amigo, mas não dá pra segurar.

Dois dias depois, tomei outra porrada de intensidade semelhante nos rins. Dessa vez, da minha caçula. Ela toma o café da manhã assistindo desenhos. Está na fase Cartoon Network e Gloob. Nesse dia, assistia ao Nickelodeon Junior. Passava o Patrulha Canina. Pessoalmente, adoro a animação dos cachorrinhos. Falei pra ela:

Que massa! Você está vendo Patrulha Canina de novo.

A resposta foi um soco que honra a escola Mike Tyson de boxe.

É, de vez em quando eu gosto de ver desenhos de quando eu era bebê.

D-E-Q-U-A-N-D-O-E-U-E-R-A-B-E-B-Ê.

Perdi o ar, o chão, a consciência e a vontade de trabalhar (mentira, essa eu nunca tenho).

A baixinha se acha muuuuiito adulta e assistir Patrulha Canina seria um momento em que ela reviveria tempos infantis, coisa remota, revisitando o conforto de sua memória afetiva. Jesus, onde chegamos???

E é melhor eu me preparar, pois quando me der conta, será a formatura da mais velha, a universidade da mais nova, os netos e os anos se foram.

É, essa vida passageira é passageira de verdade mesmo, viu…

 

Pablo Kossa é jornalista, produtor cultural e mestre em comunicação pela Universidade Federal de Goiás

Comente

X