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O algoritmo ainda tem muito para melhorar

2 de outubro de 2019 Nenhum Comentário

Não falta gente de perfil paranoico no mundo. No quantitativo, eles competem pau a pau com os idiotas. O problema é que, muitas vezes, são coincidentes. O idiota paranoico teria que ser uma categoria à parte. E provavelmente ganharia em número da soma das outras duas.

 

Os paranoicos perdem o sono com o tal do algoritmo. Os magos da internet saberiam de tudo sobre sua vida. A hora que acorda, quantos passos dá por dia, onde trabalha, onde almoça, o que gasta no cartão, a frequência de exercícos físicos, o tipo de música para cada tipo de ocasião, a série preferida, a idade dos filhos e até mesmo o tipo de vídeo pornográfico preferido para a masturbação marota para aliviar o estresse da vida corrida.

 

Compreendo toda essa paranoia. Até acho que faz sentido. Mas não perco um fio de cabelo me preocupando com isso. Minha vida está como um livro aberto para o algoritmo. Tudo que ofereço é meu calor, meu endereço. Venha, amor meu grande amor, meu algoritmo, sempre sem hora marcada. Tal qual uma Ângela Ro Ro, ébria e sem pudor, me ofereço a você. Mas, por favor, melhore. Você tem deixado a desejar.

 

Há um mês, comprei pela internet um multiprocessador. Um desses modernosos, cor retrô. Vários tipos de lâminas. E, veja você, funciona ainda como liquidificador. Um luxo. Fiz a transação por meio desses aplicativos que dão cashback. Ou seja, tudo disponível para o melhor uso do algoritmo. O problema é que ele não entendeu nada. Até hoje o diabo fica me oferecendo multiprocessador em tudo quanto é site que entro.

 

Abro o Instagram, comercial de multiprocessador. Abro o Facebook, comercial de multiprocessador. Abro o site de notícias, comercial de multiprocessador. Abro o Google para ver o horário do jogo do Goiás, comercial de multiprocessador.

 

Bicho, já comprei esse inferno! Imagino ficar uns dez anos sempre precisar de outro. Você poderia ser mais esperto nisso aí, hein, senhor algoritmo?

 

Mesma coisa aconteceu quando comprei as coleiras que previnem contra pulgas e carrapatos para meus cachorros. Duas semanas atrás, fechei o negócio. Também pelo aplicativo de cashback. E também o algoritmo está me esfregando na cara o focinho lindo de poodles, goldens e bassets toda vez que entro na internet.

 

Eu teria medo do algoritmo se começasse a ver anúncios de coisas que não conversei com ninguém na minha timeline. Aí sim suspeitaria de algo. Se os caras não estão dando conta nem de entender que já fechei negócio, não estão tão avançados assim.

 

Pode ser ingenuidade de minha parte. Não duvido. Mas, até agora na minha experiência, o algoritmo não está tão Big Brother assim.

 

Pablo Kossa é jornalista, produtor cultural e Mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Goiá

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