OpiniãoOQRTendência Pablo Kossa

O Brasil gosta de discos ao vivo. Eu, nem tanto

13 de novembro de 2019 Nenhum Comentário

Interessante a pesquisa que a Folha de São Paulo publicou ( https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2019/11/brasil-e-o-pais-que-mais-escuta-musica-ao-vivo-no-mundo-todo.shtml ) sobre o consumo de música no Brasil. Comparando com números de 51 países no Spotify, somos o que mais ouve gravações ao vivo. Das 200 composições mais tocadas nessas terras que Cabral desembarcou, 7% têm origem em shows. O México ocupa a segunda posição, com 1,5%. Nos demais locais, a média fica em irrisórios 0,5%.

Atualmente, não tenho mais paciência para discos ao vivo. Sei que é tudo feito em overdubs, a prática de refazer em estúdio o que deveria ter sido registrado no palco. A matéria da Folha informa que, em geral, aproveita-se somente as performances de baixo, bateria, voz e ambiência. O restante é feito no estúdio. Isso tira a verdade que o registro ao vivo deveria marcar. Fica mentiroso, totalmente fake. Hoje, tenho esse posicionamento. Mas preciso ser honesto, nem sempre pensei assim.

Os discos ao vivo são parte relevante da formação de meu gosto musical. Nasci em 1979, tive meus primeiros contatos musicais em meados dos anos 1980. Contudo, meu espírito é setentista. E essa foi a década áurea dos registros ao vivo. Dois discos tipicamente 70 são importantíssimos para minha formação: The Song Remains the Same do Led Zeppelin e o It’s Alive dos Ramones. Também tiveram altíssima rotação na minha vitrola os álbuns Go Back dos Titãs, From the Muddy Banks of the Wishkah do Nirvana e o Loco Live, também dos Ramones. Todos estão guardados no meu coração e melhores memórias. Porém, há anos nenhum deles passa pela agulha do meu toca-discos.

Segundo o pessoal da indústria musical, a afeição do brasileiro pelo registro ao vivo vem mais da imagem do que do som. Existe uma tendência de nós querermos levar o show pra casa. O sertanejo nada de braçada nessa onda. E as televisões com shows transmitidos insistentemente no repeat em tudo quanto é boteco desse país são prova inequívoca disso. Mas não é só no estilo mais popular de todos que comanda as paradas que a prática é comum. Observe que os grandes medalhões da MPB e os roqueiros oitentistas também soltam DVDs de toda turnê que percorre o Brasil. Se todos fazem, uma belíssima razão financeira há de existir.

Você certamente se lembra da febre dos discos acústicos, elétricos e formatos intermediários que se multiplicaram nas prateleiras patrocinados pela MTV. Na virada dos 1990 para os 2000, pouquíssimos artistas passaram incólumes por tais álbuns. Essa overdose molda o ouvido de uma geração. E cá estamos.

E se formos pensar nos melhores discos ao vivo da música brasileira? Topa o desafio? Sem pesquisar, contando só com minha combalida memória, cito Tom, Vinícius, Toquinho e Miúcha no Gravado Ao Vivo no Canecão de 1977, Caetano e Chico Juntos e Ao Vivo de 1972, Fa-Tal – Gal a Todo Vapor de 1971, Go Back dos Titãs de 1988 por memória afetiva e o Vamo Batê Lata dos Paralamas do Sucesso de 1995.

Qual sua listinha?

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