Tem gente de tudo quanto é jeito no mundo. O número preciso de opiniões sobre qualquer assunto é exatamente o mesmo da quantidade de pessoas que rodam por aí nesse planeta. Temos uns sete bilhões e meio de perspectivas convivendo juntas. Todos nós respirando o oxigênio com cada vez mais gás carbônico, envoltos pela mesma atmosfera.
Já que cada um é único, podemos fazer inúmeros recortes de aproximação entre os seres humanos. Sim, esses humanos que circulam pela cidade aí afora (e se você pegou essa referência, está na hora de marcar sua consulta com um geriatra). Tem gente do dia (eu) e tem gente da noite. Tem gente que diz biscoito e tem gente que diz bolacha (eu). Tem gente que está com saudades do horário de verão e tem gente que comemora seu fim (eu). Tem quem prefere pamonha de sal (eu) e tem quem vai na de doce. Esses grandes grupos definem mais sobre sua personalidade que qualquer teste que rouba seus dados no Facebook.
O que agora vou propor é daquele tipo de escolha que não há a ideal. O perfeito seria o caminho do meio. Claro, desde os gregos sabemos da importância da temperança. Mas agora não se trata de quem prefere Atenas (eu) ou Esparta. A escolha agora necessariamente não é a ideal. Você pega um caminho tendo total consciência do que está perdendo do outro lado. A vida é dura. E não sou eu que estou aqui para facilitar.
Você prefere uma vida completa de pasmaceira ou de turbulência nas 24 horas do dia? Serotonina ou adrenalina? Bocha ou motovelocidade? Bob Marley ou Slayer?
O presidente Jair Bolsonaro é do segundo grupo. A calmaria lhe causa tédio. Se não rolar um conflito, uma treta, uma confusão, a vida perde o sentido. Ele sempre se moveu com maior conforto em situação de confronto. Ele é assim. Ponto. E não dá para dizer que é uma característica que apareceu por agora. Não. Bolsonaro sempre deixou isso explícito. Desde quando pintou na esfera pública. O presidente já causava quando ainda integrava os quadros do Exército e era considerado mau militar por uma figura do naipe de Ernesto Geisel por contas das balbúrdias no quartel. A turbulência é o habitat de Bolsonaro.
Eu não sou assim. Não gosto de grandes emoções. Priorizo o jogo atrás, prudente, tentando não levar gols da vida. Odeio o risco. E nem sei pilotar uma moto – minha habilitação é a de categoria B, mais simples de todas. Minha compreensão de conforto está na previsibilidade.
Não proponho uma hierarquização dos comportamentos. Isso seria impossível. Não há melhor ou pior nessa comparação. O ideal, insisto, está na temperança. Mas como nessa brincadeira estamos, para usar uma expressão me moda, polarizando, fico no grupo da pasmaceira. Por uma questão de afinidade com o comportamento relax.
O problema é que o Brasil não é o país ideal para quem gosta dessa tranquilidade. Estão sendo anos turbulentos. E não sei quando vai acalmar. Isso dá uma canseira em quem só queria tocar a vidinha ordinária de boa… Não está fácil não, meu velho. Será que um dia ficaremos de boa novamente?

Pablo Kossa é jornalista, produtor cultural e mestre em comunicação pela Universidade Federal de Goiás