‘Se você achou que ano passado foi intenso, você não sabia de nada, inocente. Você não sabia de nada”.
Alinhamento energético. Esse é o nome da música composta por Letrux e interpretada por Fafá de Belém que define 2019.
A gente achou que todas as tretas que tinham para acontecer em família já tinham rolado em 2018. Imaginamos que a paz voltaria a reinar nesse ano que agora se finda. A harmonia retomaria seu trono e estaríamos agora novamente tretando por conta da maçã na maionese ou da uva passa na farofa. Não sabíamos de nada, inocentes…
A eleição foi só o estopim para um 2019 também conflagrado, também cheio de estresse, também com grupos familiares de WhatsApp em clima de tensão. E o pior de tudo: ainda temos no calendário a data em que sentamos com os familiares ao redor de uma mesa cheia de comida para discordamos de tudo que o outro fala. O tal do Natal é um fardo pesado.
Fugir das polêmicas é uma boa estratégia para evitar constrangimentos. Fugir de discussões que não darão em nada é salutar para manter a própria sanidade. Mas sem abaixar a cabeça de forma covarde, é claro.
O tio fez piada racista? Diga o quanto Gerson joga bola no meio de campo do Flamengo.
Falou de ditadura gayzista? Pergunte para a prima, filha dele, por que a namorada dela não veio na festa.
Elogiou o AI-5? Puxe um Pai Nosso em homenagem ao aniversariante da noite, que foi torturado pelos romanos.
Citou Paulo Guedes? Lembre da inflação descontrolada do início dos anos 1980 e dos planos econômicos do Delfim Neto.
Tudo na elegância. Sem ser provocativo. Afinal, não foi você quem puxou esses assuntos abjetos em data religiosa. É só uma reação educada, cheia de altivez.
Sei que não é fácil. A vontade é literalmente virar a mesa e jogar comida para tudo que é lado. Xingar dos mais ofensivos palavrões que constam nos dicionários do submundo da língua portuguesa. Ameaçar chamar a polícia, pois racismo é crime inafiançável. Não culpo quem toma tais atitudes. São compreensíveis. Mas não recomendo. O custo pessoal será alto demais. Mas cada um sabe onde o calo dói no próprio pé.
Que 2020 finalmente nos traga a paz e tranquilidade que precisamos para seguir a vida. Se acredito nisso? Sinceramente, não. Mas sonhar ainda não paga imposto, né?

Pablo Kossa é jornalista, produtor cultural e mestre em comunicação pela Universidade Federal de Goiás