OpiniãoOQRTendência Pablo Kossa

Para não tretar e não enfartar de raiva no Natal em família

18 de dezembro de 2019 Nenhum Comentário

 

‘Se você achou que ano passado foi intenso, você não sabia de nada, inocente. Você não sabia de nada”.

Alinhamento energético. Esse é o nome da música composta por Letrux e interpretada por Fafá de Belém que define 2019.

A gente achou que todas as tretas que tinham para acontecer em família já tinham rolado em 2018. Imaginamos que a paz voltaria a reinar nesse ano que agora se finda. A harmonia retomaria seu trono e estaríamos agora novamente tretando por conta da maçã na maionese ou da uva passa na farofa. Não sabíamos de nada, inocentes…

A eleição foi só o estopim para um 2019 também conflagrado, também cheio de estresse, também com grupos familiares de WhatsApp em clima de tensão. E o pior de tudo: ainda temos no calendário a data em que sentamos com os familiares ao redor de uma mesa cheia de comida para discordamos de tudo que o outro fala. O tal do Natal é um fardo pesado.

Fugir das polêmicas é uma boa estratégia para evitar constrangimentos. Fugir de discussões que não darão em nada é salutar para manter a própria sanidade. Mas sem abaixar a cabeça de forma covarde, é claro.

O tio fez piada racista? Diga o quanto Gerson joga bola no meio de campo do Flamengo.

Falou de ditadura gayzista? Pergunte para a prima, filha dele, por que a namorada dela não veio na festa.

Elogiou o AI-5? Puxe um Pai Nosso em homenagem ao aniversariante da noite, que foi torturado pelos romanos.

Citou Paulo Guedes? Lembre da inflação descontrolada do início dos anos 1980 e dos planos econômicos do Delfim Neto.

Tudo na elegância. Sem ser provocativo. Afinal, não foi você quem puxou esses assuntos abjetos em data religiosa. É só uma reação educada, cheia de altivez.

Sei que não é fácil. A vontade é literalmente virar a mesa e jogar comida para tudo que é lado. Xingar dos mais ofensivos palavrões que constam nos dicionários do submundo da língua portuguesa. Ameaçar chamar a polícia, pois racismo é crime inafiançável. Não culpo quem toma tais atitudes. São compreensíveis. Mas não recomendo. O custo pessoal será alto demais. Mas cada um sabe onde o calo dói no próprio pé.

Que 2020 finalmente nos traga a paz e tranquilidade que precisamos para seguir a vida. Se acredito nisso? Sinceramente, não. Mas sonhar ainda não paga imposto, né?

 

Pablo Kossa é jornalista, produtor cultural e mestre em comunicação pela Universidade Federal de Goiás

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