Marie Fredriksson morreu ontem, aos 61 anos de idade. A icônica loira do Roxette, que travou uma heroica batalha de quase duas décadas contra um câncer no cérebro, não resistiu às complicações do tratamento e infelizmente nos deixou. O mundo pop está mais triste.
Roxette foi uma banda incontornável para quem se ligava em som no final dos anos 1980 e início dos 1990. Os hits do duo sueco eram presença constante na programação das FMs mundo afora. Nas rádios goianienses não era diferente.
Várias músicas da banda fazem parte da minha memória afetiva de final da infância e início da adolescência. How do you do!, The look, Spending my time (minha preferida), Listen to your heart… Todos esses sons habitam aquele espaço do meu coração que destinamos para nos lembrar de quando a vida era mais fácil, as preocupações mais singelas e parecia que tínhamos um futuro promissor pela frente. Até hoje, ao ouvir alguma dessas músicas, me sinto atrasado para buscar minha irmã na escola. E o medo de tomar uma bronca homérica do meu pai toma conta de mim.
O José Luiz, que hoje tenho a honra de trabalhar junto e ter na minha seleta lista de amigos, apresentava um programa de clipes no canal 4. Eu chegava da aula, almoçava e ligava a televisão para ver a cara dos artistas que tocavam no rádio. Roxette aparecia direto. E a presença de Marie se destacava. Loira, cabelos curtíssimos, estilo totalmente new wave, esguia, sensual, cantando muito, esbanjando carisma… Era uma porrada nos olhos desse garoto imberbe de 12 anos de idade.
Quando comecei a me aprofundar em sons mais pesados durante a adolescência, reneguei meu gosto pelo Roxette, é claro. Aids, pop, repressão, o que é que eu fiz para merecer isso?, aprendi com o Ratos de Porão. Os suecos estavam nessa lista que eu tinha a suposta obrigação moral de difamar. Uma bobagem sem tamanho. Coisas que somente a pouca idade justificam. Mas é compreensível. Se adolescente não der rata na idade certa, vira adulto retardado que fica arrumando encrenca com garota de 16 anos da Suécia.
Quando entrei na faculdade, em 1999, conheci a Agatha. Ela também morava no Setor Aeroporto e pegávamos o mesmo ônibus para voltar para casa, depois da aula. Nas conversas dentro do Câmpus-Centro, descobri que era grande fã do Roxette. Ela me contou que já havia visto o show da banda em São Paulo, que adorava o disco solo de Per Gessle com influências de Rolling Stones, que tinha todos os CDs da banda. Fiquei impressionado. Não sabia que alguém poderia ser tão devoto de um grupo que estava empoeirado na minha memória e gozando do meu desprezo pueril. Ainda hoje, quando ouço Roxette, me lembro da Agatha.
Ontem, quando fiquei sabendo da morte da Marie, coloquei uma coletânea da banda para tocar e relembrar o Roxette. Mandei um Whatsapp para Agatha, a maior fã do duo de meu círculo social, e relembrei dos tempos em que o Roxette fez algum sentido para mim. Foi gostoso.
Descanse em paz, Marie.

Pablo Kossa é jornalista, produtor cultural e mestre em comunicação pela Universidade Federal de Goiás