OpiniãoOQRRevista Pablo Kossa

Você nunca vai vencer as pragas do seu jardim

21 de janeiro de 2020 Nenhum Comentário

Recordo bem das lições que aprendi vendo desenhos na Xuxa, Fofão, Sérgio Mallandro, Mara Maravilha, Angélica, Bozo, Atchim e Espirro e tudo quanto programa infantil que compunha a grade dos raros canais de televisão que pegavam em Goiânia nos anos 1980. A frase “se não pode vencê-los, junte-se a eles” é uma delas.

Manhãs e manhãs assistindo desenhos, enquanto o cheiro que emanava da panela de pressão com feijão ganhava a casa, têm que valer de algo. Depois do almoço na barriga, a escola me aguardava. Ainda hoje, carrego conceitos que absorvi nessas incontáveis horas acompanhados da babá eletrônica. A sentença do primeiro parágrafo é um exemplo.

Férias sem dinheiro para grandes estripulias são especiais para botarmos a zona da casa mais ou menos em ordem. Para quem tem quintal, dar uma geral nas plantas é, além de necessário, lúdico.

Mas não se iluda com a diversão que a jardinagem lhe proporciona. Nada mais traiçoeiro que uma área verde. Você nunca termina um serviço, você desiste. E, se não pode vencê-los, junte-se a eles, lembra?

Marco duas horas de trabalho no relógio. Vejo o que deu pra ser feito. O que não foi, automaticamente é protelado para o dia seguinte.

E sempre haverá um dia seguinte. Sempre tem mais alguma coisa para fazer. Sempre tem algo que não ficou exatamente do jeito anteriormente planejado. E, quando você acha que finalizou um trampo, pode recomeçar a labuta que certamente já haverá coisas novas para executar.

Manter a cerca-viva aparada é inglório. Toda vez desponta um galhinho lhe mostrando que você nunca vai vencer o ímpeto da natureza. Basta uma chuvinha mequetrefe que já era. O verde se impõem.

Mas nada é mais infrutífero do que retirar as pragas do gramado. Primeiro, é cansativo além da conta. A posição não favorece. Haja lombar para dar conta do recado. As raízes são persistentes e resistem no solo – as pragas levam a sério a tal da luta pela vida. E, quando você acha que terminou, lá estão elas novamente brotando para acabar com seu gramado bonitinho.

Sei que existem produtos químicos que fazem esse serviço. Chamam de mata mato. Mas, sabe como é, a gente é metido a defensor do meio ambiente, quer fazer as coisas de forma orgânica, evitar veneno no quintal… Mas a lombar agradeceria se a gente fosse um pouquinho mais despreocupado com isso. Ah, como agradeceria.

 

 

Pablo Kossa é jornalista, produtor cultural e mestre em comunicação pela Universidade Federal de Goiás

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