2020. Ver esses dois números, o dois e o zero assim, repetidos, causa algum espanto. Nunca imaginei que esse ano chegaria. Não que eu pensasse que morreria antes, não se trata disso. Simplesmente não passava pela minha cabeça viver esse número simpático. E cá estamos nós, já em fevereiro de 2020.
É um tanto quanto estranho. A vida vai passando, passando, passando e, de repente, estamos vivendo algum ano que até mesmo para os Jetsons seria futuro. Somos atropelados pelos dias, semanas, meses e anos. E não é que o Carnaval já está batendo em nossas portas de novo?
São tantas coisas que eu jamais imaginei que veria. São Paulo atraindo mais gente que o Rio de Janeiro para a festa do Rei Momo, por exemplo. Inacreditável. Em 2006, passei o Carnaval em terras paulistanas. Os Rolling Stones tocaram no Rio de Janeiro em um sábado de fevereiro. No seguinte, já era o da folia. Só que nesse meio tempo, tinha o U2 no Morumbi. Saímos do Rio e fomos para Sampa ver os irlandeses. Aproveitamos e esticamos para voltar à Goiânia só na quarta-feira de Cinzas.
Nosso roteiro foi o mais anticarnavalesco possível. E não foi por opção estética, o cardápio oferecido pela cidade nos direcionou. A febre dos bloquinhos ainda não tinha chegado. E são eles que dão cara ao Carnaval paulistano. Fizemos um roteiro culturete de teatro, cinema, shows de blues em centros culturais, restaurantes e museus. Foi ótimo. Mas não parece que foi durante o Carnaval. Precisamos forçar a memória para lembrar que essa viagem foi durante a esbórnia de fevereiro.
Em 2020, São Paulo deve ultrapassar o Rio de Janeiro no número de turistas para o Carnaval. Em 14 anos, tudo muda muito.
Pensando bem, se no carnaval de 2006 você me dissesse que algum dia a festa paulistana ultrapassaria no quantitativo a carioca, eu diria que você estava viajando.
E se você me dissesse que estaríamos em 2020 tendo que defender se a esfericidade da Terra, debater com quem elogia torturador, explicar que o nazismo foi um movimento de extrema-direita, lembrar da importância da floresta amazônica ou corrigir um ministro da Educação sobre a escrita correta da palavra impressionante, eu diria que você abusou dos tóxicos durante os dias de folia.

Pablo Kossa é jornalista, produtor cultural e mestre em comunicação pela Universidade Federal de Goiás