Já disse por aqui no O que Rola que ando empolgado com podcasts ( https://oquerola.com/2019/07/
São dois gaúchos que entendem muito das panelas e dão dicas preciosas para quem se aventura no mágico mundo da produção caseira de nossa bebida predileta. Estevão Chittó e Henrique Boaventura são os que comandam a parada. O primeiro é um dos sócios da cervejaria Suricato Ales, muito respeitada por quem está no meio das artesanais. No último programa que foi publicado, ele dá dicas para quem nutre o sonho de ter um rótulo para chamar de seu.
Pensando melhor, dicas não é exatamente a palavra certa para descrever o conteúdo do programa. Um belo tapa na cara no estilo “pede pra sair” definiria melhor o que você ouvirá por ali. Um balde de água fria. Um choque de realidade. Uma real sobre um mundo onde o filho chora e a mãe não escuta. Tudo isso também caberia como descrição.
Já fui um desses que sonhei em ter minha cervejaria. Em algum momento, isso me pareceu uma boa ideia. Comecei a me inteirar do assunto, fiz cursos, conversei com amigos que têm suas marcas ciganas, li um monte sobre o tema. Depois de um ano nessa pesquisa, arquivei o sonho. Percebi que somente alguém muito maluco para encarar o desafio colossal de empreender com cerveja. E é por adorar os meus amigos malucos que faço questão de gastar meus suados reais com a produção deles. Um brinde a esses heróis!
No programa, todas as dificuldades são esmiuçadas. Concorrência desleal, problemas com pontos de venda, definição de público-alvo, tributação pesada, relação conturbada com a cervejaria que abriga a produção cigana, dimensionamento de receitas, técnicos de cervejarias que não dão a mínima para noções básicas de segurança… O rol de tretas é infindável.
Quando ouvi esse Brassagem Forte, meu sonho de ser cervejeiro profissional já tinha ficado para trás. Hoje, estou plenamente feliz tendo uma boa autossuficiência. Minha produção caseira cobre uns 80% do meu consumo. Está ótimo. Minha ambição: produzir a melhor cerveja possível no meu equipamento e ficar bêbado com o que sai do meu pequeno fermentador. Justo.
Se você ainda enxerga com bons olhos a ideia de abrir um CNPJ e encarar o mundo cervejeiro, ouça o programa com calma. Se ao final dos pouco mais de 90 minutos você ainda estiver disposto, parabéns. Você realmente é um vocacionado para a coisa. Siga adiante. Caso pintem dúvidas e receios, reflita bem. Talvez seja melhor abrir uma fábrica de fraldas descartáveis.

Pablo Kossa é jornalista, produtor cultural e mestre em comunicação pela Universidade Federal de Goiás