Alguém viu o prefeito de Goiânia por aí? Não digo pelas ruas, é claro. Se ele tiver um pingo de juízo, e acredito que tenha, está cumprindo a reclusão domiciliar. Quietinho dentro de casa, só gerenciando as coisas de forma remota por estar dentro do grupo de risco, octogenário que é. Estou falando de sua administração, das atitudes da Prefeitura em relação à crise do coronavírus.
Iris Rezende optou pela tática do avestruz. Enfiou a cabeça em um buraco e acredita que, assim, os goianienses vão se esquecer que precisam também da ajuda do poder municipal. Não, prefeito, não vamos não. Estamos todos com a corda no pescoço. Todos. E a Prefeitura pode ajudar a aliviar um pouco nosso perrengue.
O Paço Municipal tem que se mover. Postergar o pagamento dos tributos municipais é o mínimo. Não é hora de se preocupar com arrecadação de IPTU, ISS, ITU ou qualquer outra coisa que mexa no nosso bolso. O ideal mesmo seria anistiar o goianiense desses pagamentos. Se isso não for possível, e reconheço que não é medida fácil, o adiamento é obrigatório.
Até agora, é vergonhosa a postura da Prefeitura. Alegam problemas de caixa para tomar tal medida. Não diga! No atual contexto, quem não está com problemas de caixa, prefeito? A diferença é que as famílias podem chegar a passar fome, enquanto a estrutura municipal pode aguentar com mais conforto o baque econômico que todos estamos enfrentando.
A diferença de postura entre Iris e Ronaldo Caiado é gritante. Enquanto o governador foi pagar sapo para os irresponsáveis que se aglomeravam na Praça Cívica, rompeu com o presidente obscurantista de passado atlético que não tem medo de gripezinha ou resfriadinho, postergou o pagamento do IPVA e coloca a cara à tapa em entrevistas diárias, o prefeito está mais sumido que nota de cem na carteira de pobre.
Esses momentos de crise aguda definem legado. Nessas horas, cada um de nós está escrevendo a própria biografia. Como nos posicionamos, o que dizemos, quem apoiamos em contextos dramáticos… Tudo isso molda a forma como seremos lembrados.
Iris, a história não vai perdoar esse comportamento vacilante em dias cruciais para a existência humana. Salve sua biografia e entre de cabeça na preservação da renda das famílias e na subsistência das empresas de Goiânia. Salvar o caixa da capital enquanto postos de trabalho são exterminados não é inteligente. E sua trajetória de mais de 60 anos de vida pública será eternamente marcada por essa decisão errada e mesquinha.

Pablo Kossa é jornalista, produtor cultural e mestre em comunicação pela Universidade Federal de Goiás