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Você ainda é virgem de live?

8 de maio de 2020 Nenhum Comentário

Algum gaiato tuitou: “Estou com medo de abrir a geladeira e ter uma live lá dentro”. Como que tudo que viraliza na internet, fica difícil identificar precisamente o autor de tal pérola. A frase é brilhante. A live é um fenômeno que se impôs nesses tempos de covid-19. Tal qual a máscara nos rostos, será a marca de uma época.

Para tudo quanto é lado, em tudo quanto é rede social, de tudo quanto é assunto. As lives s ão onipresentes. Se você ainda não fez uma live, pode ter certeza que sua hora vai chegar. Sua virgindade de live não vai durar muito, tenha isso consigo.

E por que diabos as pessoas preferem ver uma live do que um vídeo gravado previamente sobre aquele mesmo assunto, com aquelas mesmas pessoas? Tenho alguns palpites. O vídeo tem suas virtudes. São editados, isso tira muito do tempo gasto com inutilidades que geralmente percebemos nos que são feitos ao vivo. São roteirizados, o que nos leva de forma mais racional ao ponto que almejamos quando apertamos o play. São melhor tecnicamente acabados, pois é possível fazer testes de luz e som até que se atinja o ideal possível com aquele equipamento.

Apesar de todos esses pontos, falta ao vídeo gravado a sensação de verdade que somente uma live tem. Um artista bêbado, uma fala equivocada, um comentário sobre algo que aconteceu no dia… Tudo isso favorece e humaniza a experiência da live. A ideia de compartilhar daquele mesmo momento com quem assistimos faz da experiência da live algo único. O show possível dentro do que vivemos. A chance de interação com o protagonista é outro chamariz. Além disso, estamos, ao menos aqueles que têm juízo, carentes de contato social. A live também nos coloca, se não no mesmo espaço físico, ao menos no espaço virtual, de forma concomitante com um monte de gente. É o que tem pra hoje.

Talvez as lives sejam o novo normal. Torço para que não. Não sou exatamente um modelo de interação social. Na verdade, minha misantropia estava galgando patamares preocupantes. Socialização não é meu forte. Mas gosto da ideia de que, caso eu queira, possa ir a um restaurante, na casa dos familiares ou assistir uma apresentação artística ao vivo. Sinto alguma saudade dessas ocasiões. E estou com uma puta saudade das minhas discotecagens, ah, como estou…

Alguns dizem que essas atividades fazem parte de um mundo que acabou. Torço que não. Mas, se esses prognósticos estiverem certos, que venham mais lives para deixar nossa vida à distância um pouco mais humana.

 

Pablo Kossa é jornalista, produtor cultural e mestre em comunicação pela Universidade Federal de Goiás

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