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Você está assistindo às reprises dos jogos históricos? Eu não.

20 de maio de 2020 Nenhum Comentário

A tragédia de saúde pública, o perrengue econômico doendo no bolso, a falta de esperança crônica para o amanhã… Quem não tiver com a cabeça zoada nesses dias é um privilegiado. Ou trata-se de alguém sem sentimento algum, capaz de fazer piadinha infame com Tubaína quando quase 1,2 mil brasileiros morreram devido a esse vírus maldito. Mas não é sobre a falta de empatia que quero tratar nesse texto. Vou tentar algo mais ameno. Bóra falar das reprises dos jogos clássicos.

 

As emissoras de televisão têm um problema a resolver. São 24 horas de grade a preencher com a impossibilidade de programas de ao vivo com auditório, sem novas gravações que foram interrompidas pela pandemia, sem muita grana no caixa por conta da recessão do mercado publicitário. O futebol, é claro, também parou. Ressuscitar jogos clássicos da Seleção Brasileira ou dos clubes se tornou algo estratégico. Ajuda a compor a grade televisiva, dá uma resposta aos patrocinadores do esporte, sacia de alguma forma o interesse do público pela pelota.

 

Depois da restrição domiciliar imposta pela covid-19, não assisti a nenhum jogo reprisado. Não os da TV, pelo menos. Logo no início desse inferno, ainda no mês de março, procurei no Yotube a final da Libertadores do ano passado e revi o jogo entre Flamengo e River Plate. Quando a partida aconteceu, eu estava na confraternização dos cervejeiros caseiros de Goiás e assisti ao jogo com a rapaziada. Nessas ocasiões, você sabe, a atenção fica difusa. Queria rever a partida prestando mais atenção. Foi o que fiz.

 

Nesse ínterim, os canais fechados descobriram o interesse do público pelos jogos de outrora. E a mesma estratégia foi adotada pelos canais convencionais. No início, me empolguei com a história. Num domingão, comecei a ver a final da Copa do Mundo de 2002. Dormi no sofá. Na reprise da de 1994, nem briguei comigo mesmo: na primeira pescada na sala de televisão, fui para minha cama. Percebi que valorizo mais meu sono do que uma emoção requentada.

 

Já assisti várias partidas históricas tempos atrás. Antes dessa quarentena, baixava jogos na internet para assistir em casa e entender a tática dos times. Todos os jogos das seleções brasileiras campeãs, de 1958 a 2002; todos dos escretes de 1982 e 1986 pela memória afetiva; clássicos decisivos do Goiás e Flamengo. Ou seja, sou público-alvo total dessa iniciativa das redes de TV. Mas, na hora do vamos ver, preferi o sono.

 

Não sei lhe responder o motivo do meu desinteresse. Se é por conta do momento já estressante demais para fazer pesquisa histórica futebolística, ou se é por que não estou com o menor saco mesmo. Não sei. Mas estou preferindo assistir Simpsons com minha filha do domingo de tarde e reservo as noites de quarta-feira para um seriadinho maroto no Netflix.

 

O futebol ao vivo me faz falta e não há campeonato alemão no mundo capaz de ocupar o espaço dos meus times. Mas, entre vasculhar o passado futebolístico provocado pela mídia ou ir para o entretenimento audiovisual, venho escolhendo a segunda opção.

 

Pablo Kossa é jornalista, produtor cultural e mestre em comunicação pela Universidade Federal de Goiás

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