Você conhece alguém que morreu de covid-19? Alguma pessoa de seu círculo social já foi confirmada doente desse novo coronavírus? Você já sentiu algum sintoma e ficou na dúvida angustiante, na incerteza que tira o sono?
De minha parte, ainda não posso reclamar. Ninguém da minha família próxima apresentou sintomas. Tenho o privilégio de tocar boa parte de minhas atividades profissionais de casa.
Mas nem tudo são flores. Minha mulher trabalha na Saúde e não tem a minha sorte. Está em esquema de revezamento, na labuta. Alguns de seus colegas foram confirmados. E a paranoia só cresce.
Sobre esse sentimento angustiante de ter divido o escritório com alguém infectado, uma amiga me ligou na semana passada e contou seu drama. Ela trabalha em indústria e as atividades por lá estão a todo vapor. Na sua equipe, duas pessoas foram confirmadas. Ela disse que quando recebeu a notícia, toda a rotina que teve com aqueles colegas foi repassada em sua cabeça.
“Comecei a pensar em todas as vezes que havia os encontrado nos últimos dias. Conversei com um no estacionamento e batemos o ponto juntos. A colega sentou no meu computador e pegou no mouse em que trabalho. Troquei uma ideia rápida com um grupo no qual ela estava no corredor perto do banheiro. Sempre de máscara, sempre com distanciamento, é claro. Mas não tem jeito, a gente fica pensando, limpa tudo com muito mais cuidado, bate muito mais álcool nos obejtos… O problema é que a cabeça não descansa”.
Outra amiga teve um drama ainda mais agudo. Perdeu o pai e o tio, os dois que eram irmãos e moravam próximos, pra covid-19. Ela está arrasada. Compreensivelmente arrasada. Mandei uma mensagem de voz prestando minhas condolências. Impossível imaginar a dor pelo que ela está enfrentando. Que tristeza.
Com a reabertura em Goiânia quando estamos em momento crítico nas unidades de Saúde, já está claro que, de agora pra frente, é cada um si. Já disse e repito: cuide de você e dos que ama. Saia o mínimo possível. Higienize suas mãos ao máximo possível e evite contato no rosto. É o que dá pra fazer. Vamos ganhar a vida tentando não adoecer. Não é mole. Mas é o que tem pra hoje. E, se tiver o azar de se contaminar, não vacile: essa doença é traiçoeira. Corra para a unidade de Saúde.

Pablo Kossa é jornalista, produtor cultural e mestre em comunicação pela Universidade Federal de Goiás
Foto: Valor Investe.