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A evolução dos nomes das duplas sertanejas

19 de outubro de 2021 Nenhum Comentário

 

A música sertaneja tem percorrido um longo caminho. Da manifestação pura do espírito da roça para a sofrência desenfreada de universitários, muita coisa aconteceu. Nada para preocupar os fãs, porém, já que evoluir é da natureza humana, e também da música. E, em última análise, os saudosistas sempre poderão apelar para as plataformas de áudio, e ouvir novamente a viola plangente do passado. Para quem gosta de um pouco de história, dá para ver como o sertanejo mudou através dos nomes de seus principais intérpretes – as duplas.

 

 

Cantar em dupla está na raiz da música sertaneja. Nos campos, não era comum encontrar grande variedade de músicos ou de instrumentos, e a viola, com seu violeiro, era a opção mais recorrente. Com dois violeiros tocando em oitavas diferentes, um fazendo as notas de baixo e outro dedilhando a linha melódica, era possível criar um som mais amplo e mais completo.

Essa divisão de tarefas se expandiu para os vocais, com um fazendo o tom mais agudo, e outro cantando em um tom mais baixo, por vezes quase um backing vocal. A harmonia consistente de vozes e violas criava a identidade da dupla que, para fazer sucesso, só precisaria de um nome.

A primeira ideia foi usar um recurso que a publicidade moderna e os americanos, seus inventores, adoram: a aliteração. Duplas cujos nomes artísticos se pareciam, ainda que não tivessem nenhuma relação com àqueles recebidos no batismo.  Tonico & Tinoco, Liu & Léu, Lourenço & Lourival. O passo seguinte foram os apelidos, por vezes independentes entre si, como Tião Carreiro & Pardinho, Pedro Vento & Zé da Estrada e às vezes relacionados, como Milionário & José Rico, Zé Carreiro & Carreirinho e – sacrilégio não mencionar – Chitãozinho & Xororó. Na zona cinzenta entre as duas opções, Pena Branca & Xavantinho. Afinal, Pena Branca é referência a um índio ou não?

Apelidos são sempre divertidos, e não são exclusividade de duplas sertanejas ou jogadores de futebol. Jogadores de poker também tem os seus, e alguns mais antigos são verdadeiras marcas registradas que sobrepõem até mesmo seus próprios nomes. Mas, em algum momento das últimas décadas, os apelidos foram caindo em desuso – para os jogadores de poker, de futebol e também para as duplas sertanejas. Veio, então, a nova fase: os nomes, pura e simplesmente.

Os dois principais representantes dessa nova onda, surgida nos anos 90, foram Leandro & Leonardo e João Paulo & Daniel. Curiosa e tragicamente, as duas duplas perderam um integrante muito cedo, e por algum tempo pensou-se em juntar os sobreviventes em um novo dueto.  Mas ambos eram leading voices, e a química não rolou. Foram para carreiras solo bem-sucedidas.

A vertente dos nomes simples parece ter sido a vencedora no processo de seleção natural. O que mais se vê nos dias de hoje são os sertanejos com nomes simples e diretos, como João Bosco & Vinícius, Jorge & Mateus, Henrique e Juliano. Porém, há problemas. Alguns nomes são extremamente comuns e a chance de se repetirem é enorme. Como é possível saber que o Matheus que faz dupla com Kauan não é o mesmo que faz dupla com Jorge? Além de um providencial H no meio, não há diferença. João Bosco tem um homônimo na MPB. Já houve casos de problemas com direitos autorais entre cantores com nomes parecidos. Jorge Ben tornou-se Benjor para evitar confusão com o gringo George Benson.

 

Se as tretas de fato ocorrerem, talvez vejamos, em breve, um processo parecido ao que vem acontecendo com os jogadores de futebol. Antigamente, eram adeptos dos apelidos. Hoje, preferem usar seus nomes completos– Gabriel Barbosa, Jesus, Menino, Santana, Silva… Alguns sertanejos já pularam direto para os sobrenomes, como em Marcos & Belutti. Então será que um dia veremos um Verão Sertanejo com show de Henrique Teixeira & Diego Barros?

É uma possibilidade. Mas a história costuma se repetir, e por isso algumas duplas de hoje têm resgatado antigos recursos do sertanejo de outrora. Simone & Simaria, Maiara & Maraisa são duas versões modernas da aliteração ao estilo Tonico & Tinoco e Edson & Hudson. Por essa lógica, o próximo passo deverá ser uma nova rodada de apelidos. Quem será que vem aí? Beija-flor e Colibri? Tupi e Tapajós? Ou, especialmente para o sertanejo universitário, Estudante e Bacharel?

 

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